

“Indefensáveis”. É desta forma que a plataforma cívica “Juntos pelo Divor – Paisagem e Património” considera os projectos de duas centrais fotovoltaicas da empresa Hyperion, localizados perto de Évora, e cujo avanço vai provocar destruição que não poderá “ser evitada, mitigada ou compensada”.
Numa carta do movimento, pode ler-se que “na nossa perspectiva — e não será nunca demais repetir que temos consciência da urgência da transição energética e do papel que nela têm as energias renováveis — ambos os projectos em apreço são indefensáveis numa região como a do concelho de Évora”.
A missiva, datada da passada segunda-feira, e enviada à administração da Hyperion Renewables Energy, promotora dos dois projectos fotovoltaicos projectados para a zona de Graça do Divor, no concelho de Évora, foi também divulgada aos jornalistas e apresenta o balanço de uma reunião entre o movimento e a empresa, realizada a 8 de Julho.
No documento, a plataforma “Juntos pelo Divor” argumenta que o concelho de Évora não é “um lugar qualquer” e que os projectos da empresa “não têm em conta realidades cuja destruição não pode ser evitada, mitigada ou compensada por qualquer medida que se proponha implementar”.
Évora é “uma cidade classificada pela UNESCO como Património da Humanidade, com um equilíbrio urbano-rural raro, com uma paisagem que, para além do seu valor intrínseco, é um factor de identidade essencial da região e possui uma valia económica forte”, refere a plataforma.
O movimento defende ainda que esta é também “uma zona com um riquíssimo património arqueológico, que não pode ser isolado da sua envolvente” e que possui “uma biodiversidade que é reconhecidamente incompatível com projectos desta envergadura e relativamente aos quais deveria ser obrigatória a aplicação do princípio da precaução”.
“Referimo-nos a actividades económicas, como a agricultura, a pecuária, a exploração do montado como floresta de uso múltiplo, o turismo rural, o turismo de natureza, o turismo cultural e o enoturismo, que serão muito prejudicadas, quando não destruídas, por estes megaparques”, critica o movimento.
O “Juntos pelo Divor” alude igualmente “aos modos de vida, aos investimentos, à saúde e à qualidade de vida de mais de 20 mil das 50 mil pessoas que habitam o concelho de Évora”, como realidades que vão ser impactadas de forma negativa pelos projectos.
“Nunca encontrámos em qualquer documento vosso uma linha que fosse que revelasse uma compreensão mínima destas realidades e uma consequente busca de alternativas para a localização destes empreendimentos”, criticam.
Referindo-se ao projecto “CFV da Graça do Divor” e ao projecto “Sol de Évora da Newcon40”, que também está “a ser desenvolvido pela Hyperion”, aos quais se junta a central fotovoltaica vizinha da empresa Incognitworld 3, o movimento diz que se trata de um conjunto de parques solares com “uma potência instalada da ordem dos 1.000 MWp [Megawatt-pico] e da ocupação de um território com mais de 1.800 hectares”.
O movimento salienta que “a reunião foi decepcionante, foi conduzida como se já fosse um facto consumado”, rejeitando essa ideia e argumentando que “há alternativas” e que ainda “é possível deslocalizar estes dois projectos”.
O Juntos pelo Divor compromete-se a “lutar por todos os meios” por essa deslocalização.
Em 3 de Julho, três movimentos cívicos e uma associação do Alentejo divulgaram uma carta aberta em que manifestaram estar contra megaprojectos fotovoltaicos e eólicos na região e exigiram ao Governo a criação de um plano nacional e regional de ordenamento da produção de energia renovável.
com LUSA | Imagem: DR