É muito usual utilizarmos a expressão “nunca digas desta água não beberei que o caminho é longo e pode apertar a sede”. Somos feitos de vida, olhamos à nossa volta e vemos vidas tão diferentes das nossas, tão distantes às vezes, porque a vida traçará o nosso caminho e deixamo-nos ir ou seremos nós a traça-lo e a deixar a vida correr?!
Cruzamo-nos uns com os outros, conhecemos tantas vezes as histórias, os encontros e desencontros, somos juízes atentos e plenamente convencidos, tanta vez, que faríamos diferente, connosco jamais aconteceria isto ou aquilo porque somos e estamos convictos de um auto conhecimento quase inabalável e inflexível. Somos assim, como um ato consumado, fechamo-nos ao outro e à vida e vivemos tantas vezes com uma sede insaciável de beber, de provar as águas que correm enquanto a vida corre também, sede de viver o que ainda não vivemos mas que sonhámos, quem sabe? e ficou no fundo do baú da nossa infância e juventude, sede de sentir, sede de abraçar, sede de beijar, sede de partilhar e dizer sem medo “desta água eu vou beber porque é ela que me mata a sede” sem medo de ser feliz, sem medo do que não conheço mas que pode enriquecer-me como pessoa, sem medo de dar de peito aberto e mão estendida para acarinhar e beber da água que nos arranque das certezas que pensamos ter, sem medo de sair do que é confortável e aparentemente seguro.
...porque enquanto a água correr, sede eu vou sempre ter e desta água beberei porque o caminho é longo e a sede vai apertar ou terei de atracar num qualquer lugar… porque assim teve de ser ou porque esta é a água que me faz viver, mas dela precisarei sempre beber!
Continuamos com sede, porque demos de beber e não bebemos, porque matámos a sede e não saciámos a nossa e quando a sede apertar e a boca nos secar, então “desta água beberemos” da água que nos faz cair a máscara do perfeito ou imperfeito, a máscara que nos serviu tanta vez para arrancar sorrisos em vez de lágrimas, da máscara que nos despe e nos revela diante do outro como igual e semelhante e descobrimos que temos a mesma sede e bebemos da mesma água e chegamos a brindar termo-nos encontrado. Porque entende e eu entendo porque te permites e eu me permito, sentarmo-nos lado a lado e sermos apenas e somente pessoas.
São tantos os rios que correm, nascentes que rebentam, mares que se revoltam e a sede que aperta… Afinal todos temos sede, afinal e continuarei a afirmar que não seremos assim tão diferentes, uns navegam em mar alto, outros em rios extensos, outros ainda em pequenos riachos mas a corrente pega em todos e levar-nos-á até à margem onde descansaremos da travessia que fizemos, as tempestades que atravessámos, as paisagens que admirámos, as aventuras que vivemos, as vezes que quase naufragámos e o que deixámos pelos portos por onde passámos…
Sim “desta água beberei” da tua, da tua e da tua, quero beber de águas diferentes que matem a sede de aprender, de crescer, de perceber, de ouvir, de sentir e de viver, águas com sabores diferentes, cores diferentes mas que me matem a sede do que ainda não sei … porque enquanto a água correr, sede eu vou sempre ter e desta água beberei porque o caminho é longo e a sede vai apertar ou terei de atracar num qualquer lugar… porque assim teve de ser ou porque esta é a água que me faz viver, mas dela precisarei sempre beber!
Confuso? Talvez não… Matem a Vossa Sede enquanto Vivos e partilhem águas de Querer Ser… (Água para beber)!
* Psicóloga Helena Chouriço