269. Aspiração antiga de toda uma região, a Barragem de Veiros foi projectada em 2008, tendo entrado em funcionamento em 2012, ficando desde logo no horizonte de todos os responsáveis, o número 269, a cota 269.
Depois de décadas de espera, até que a Barragem de Veiros passasse primeiro das ideias para o papel e depois para o terreno, faltava “apenas” que a água atingisse a cota 269 e que a albufeira criada pela barragem do concelho de Estremoz começasse a “deitar fora”.
E esse dia chegou. Na madrugada da passada quinta-feira, 11 de Fevereiro, e graças à chuva intensa que se tem registado na região nos últimos dias, a Barragem de Veiros, infraestrutura inaugurada em 2015, efectuou a sua primeira descarga. Estava assim atingido o Nível Pleno de Armazenamento e armazenados 10,3 milhões de m3 de água, sendo que a capacidade útil da barragem é de 8,8 milhões de m3 de água.
A albufeira da Barragem de Veiros permite o armazenamento de água para utilização no regadio de uma área superior a 1.100 hectares de solos, localizados na freguesia estremocense de Veiros e no concelho vizinho de Monforte.
Ardina do Alentejo foi o primeiro órgão de comunicação social a visitar o paredão da Barragem de Veiros depois do início do processo da primeira descarga do maior espelho de água do concelho. Em plena albufeira da barragem estivemos à conversa com José Nuno Pereira, Presidente da Direcção da Associação de Beneficiários do Perímetro de Rega da Barragem de Veiros, desde a sua fundação, no ano de 2009. Nesta breve entrevista, o empresário agrícola, de 55 anos, falou-nos do momento histórico que a Barragem de Veiros viveu recentemente com a primeira descarga, do passado e do futuro da infraestrutura, das alterações, quer económicas quer agrícolas, que aconteceram desde a inauguração da barragem, e da romaria que as pessoas fazem tornando a Barragem de Veiros um verdadeiro ponto de atracção.
Ardina do Alentejo – Na madrugada da passada quinta-feira, a Barragem de Veiros atingiu a cota 269, a cota máxima ao Nível Pleno de Armazenamento, tendo iniciado a primeira descarga desde a sua construção. Este é um momento histórico não só para a associação mas também para o concelho…
José Nuno Pereira (JNP) – Sim, de facto é um momento histórico para todos, para o concelho de Estremoz, para a Associação de Beneficiários do Perímetro de Rega da Barragem de Veiros, para todos no geral. Estamos todos de parabéns porque com a ajuda de Deus foi possível chegar a este ponto. Foi pena ter demorado mais um bocadinho mas fomos conseguindo aguentar até chegarmos a este dia.

Ardina do Alentejo – Quando a Barragem de Veiros foi inaugurada pensava que volvidos seis anos a mesma já estava cheia? Estava nas vossas melhores perspectivas que nesta data surgisse a primeira descarga?
JNP – As nossas perspectivas eram um bocadinho altas porque os estudos de construção desta albufeira indicavam que a mesma tinha capacidade de enchimento de duas vezes por ano. Perante isso, pensámos que se não fosse no primeiro ano, que no segundo ano conseguiríamos encher. Tal não aconteceu porque os anos de seca foram consecutivos e tudo isso tornou o processo mais complicado e demoroso. Mas de qualquer das formas… já está!
Ardina do Alentejo – A partir deste momento quais são os grandes benefícios da Barragem de Veiros estar completamente cheia?
JNP – Os grandes benefícios são que primeiramente os agricultores passam a ficar com um horizonte mais estável na sua vida agrícola, podendo fazer projectos de outra forma, tendo uma segurança de que a água não vai faltar nos próximos anos, o que dá uma grande segurança a quem trabalha a terra porque é sempre uma preocupação. Andamos sempre a questionarmos “Este ano não temos quase água, será que para o ano vamos ter?”. Assim, com a Barragem cheia, sabemos que nos próximos dois, três anos, e sempre chovendo alguma coisinha, vamos sempre andar num patamar confortável.
Ardina do Alentejo – Embora a barragem esteja no concelho de Estremoz, não é só o concelho de Estremoz que beneficia dela…
JNP – Os agricultores que beneficiam do perímetro de rega são todos de Veiros, embora alguns deles tenham terras no concelho de Monforte. Cerca de 300 hectares poderão pertencer ao concelho de Monforte, mas os agricultores, por acaso, são todos do concelho de Estremoz, embora com terras no concelho de Monforte.
Ardina do Alentejo – Nos dias que antecederam o enchimento total da barragem, e logo após o início da primeira descarga, a Barragem de Veiros tornou-se um local de romaria e de visita.
JNP – Sim, mas já o é desde o início. Eu costumo dizer, a brincar com a situação, que aqui é a Nossa Senhora de Fátima de Veiros, visto que as pessoas fazem aqui verdadeiras romarias, sendo incalculável o número de carros que vêm aqui ver a barragem e o nível de água que a mesma já atingiu. Mas é assim, as pessoas estão aqui perto e não têm grandes atractivos para se distrair e elegeram este local como ponto de atracção, e nós gostamos de ver as pessoas a virem visitar a Barragem de Veiros, como é óbvio.
Fundei a associação com um grupo de amigos, levámos isto para a frente por carolice, e com muito entusiasmo até hoje. Estamos todos felizes porque o objectivo está alcançado e o futuro está mais risonho.
Ardina do Alentejo – Em termos de alterações que possam acontecer na zona da Barragem de Veiros, nomeadamente com a implementação de estruturas viradas para o turismo, para o desporto aquático, para o lazer, até mesmo de uma praia fluvial… Tem conhecimento de alguma alteração que possa surgir no futuro?
JNP – Eu não tenho conhecimento disso e não vejo como é que isso algum dia poderá vir a ser possível visto que esta barragem criou uma albufeira que está destinada para o uso exclusivamente hidroagrícola. Por exemplo, a implementação de uma praia fluvial obrigaria a que as areias que são introduzidas para a criação da praia, e devido à força da corrente, fossem arrastadas para a zona do paredão, assoreando e obrigando a despejar a barragem um dia mais tarde. Portanto, não vejo que, à partida, essa seja uma situação muito possível.
Ardina do Alentejo – Esta foi uma obra que demorou muito tempo, a passar das ideias para o papel e posteriormente para o terreno, mas já está. Desde 2009, com a criação da ABPRV que o José Nuno acompanhou todo o processo, na linha da frente. Hoje, ao ver a primeira descarga da Barragem de Veiros, é um homem feliz?
JNP – Sim, considero-me uma pessoa feliz. Fiz a minha parte. Fundei a associação com um grupo de amigos, levámos isto para a frente por carolice, e com muito entusiasmo até hoje. Estamos todos felizes porque o objectivo está alcançado e o futuro está mais risonho.
Ardina do Alentejo – Valeu a pena todo o esforço?
JNP – Valeu a pena, com certeza que sim.
Ardina do Alentejo – A Barragem de Veiros também ajudou na criação de postos de trabalho?
JNP – Sim, sem dúvida. Hoje temos muitas empresas já a trabalhar em Veiros, na área da agricultura, tendo sido criados alguns trabalhos fixos durante o ano, que não tínhamos aqui em Veiros, e em termos sazonais também se criou aqui muito emprego. E também veio dar uma mais-valia às oficinas aqui de Estremoz, visto que há muitas empresas do perímetro de rega que já vai a Estremoz às oficinas, arranjar peças para as máquinas e para aquilo que faz falta, movimentando a economia. Demorou um bocadinho, porque o crescimento foi paulatinamente feito, mas daqui para a frente ainda temos espaço para crescer.