Até Domingo, o céu do norte alentejano vai ser literalmente pintado com várias cores, pelos 37 pilotos de sete países diferentes presentes na 19.ª edição do Festival Internacional de Balões de Ar Quente. Com as expectativas a serem superadas ao terceiro dia e com seis voos realizados, este é um dos poucos eventos que pode ser apreciado em duas perspectivas, a de assistente ou mesmo a de participante. Alter do Chão, Fronteira e Monforte são os locais escolhidos para acolher esta edição.
A azáfama começa bem cedo e para garantir o seu voo, há quem esteja disposto a prescindir de umas boas horas de sono, para marcar lugar na fila de inscrições. Feito o briefing e já com o entusiasmo a notar-se, as pessoas inscritas são distribuídas pelos vários balões e convidadas a participar na montagem dos mesmos.
“Quando estamos a voar num balão conseguimo-nos abstrair das dificuldades do dia-a-dia, dos problemas, e ficamos embutidos por este espírito de liberdade de forma a desfrutar o que o mundo e neste caso concreto o Alentejo e o que o concelho de Monforte tem para nos oferecer” garante Aníbal Soares, piloto há 24 anos e responsável pelo evento.
A realização de um evento deste tipo tem uma condicionante: a meteorologia. “Na análise que fiz com uma certa antecipação previa-se bom tempo o que se veio a concretizar. Tudo isto é uma previsão, não é uma ciência exacta” remata Aníbal Soares, a cerca de 1.200 metros de altitude, com uma paisagem alentejana a perder de vista.
“Vejam aí em baixo se não há nenhum balão”
A viagem, de aproximadamente uma hora, faz-se com a maior tranquilidade e há ainda oportunidade para relaxar, onde a única “banda sonora” - esporádica - é o do queimador a “cuspir” fogo.
Questionado sobre qual a viagem que mais gostou de fazer na sua vida de balonista, Aníbal não tem dúvidas “a viagem do dia de hoje! É sinal que ainda cá estou a desfrutar e a proporcionar o prazer de voar!”
Apesar de não ter nascido com asas, este desporto corre nas veias de Aníbal Soares, também rosto da empresa Publibalão.
“Vejam aí em baixo se não há nenhum balão”, pede ajuda aos sete passageiros, para se assegurar que pode mudar ligeiramente a rota, com a ajuda do vento. “Temos cá sete países representados, o que nesta altura e também devido à situação económica não é tarefa fácil, mas nós conseguimo-lo fazer sem muito esforço, devido à tradição e reconhecimento que este evento já tem no mundo do balonismo” comenta, já a poucos metros do chão.
Sonho por concretizar
Este é o evento de balonismo com maior número de pilotos europeus e a grande dificuldade da organização “é dizer não”. “Se tivéssemos mais condições de logística e alojamento, seria bastante mais fácil atingir um número recorde e torná-lo num grande evento a nível europeu. Infelizmente a capacidade económica e logística, não nos permite sonhar tão alto. Mas continuamos a sonhar e a tentar ter o maior número de balões” comenta Aníbal Soares, depois de accionar, com uma das mãos, o queimador.
Apesar da capacidade de oferta ser reduzida, são feitos todos os esforços para que todas as pessoas que se deslocam aos locais de meeting point possam voar a título gratuito, “não temos 1000 ou 100 lugares - temos alguns e dentro disso tentamos proporcionar às pessoas uma viagem única”.

Em busca de uma aventura inesquecível
Por estes dias e de vários pontos do país, são muitas as pessoas que rumam até ao Alto Alentejo não só para assistir ao evento como também para fazer parte dele. Ao meeting point de Monforte chegaram inúmeros aventureiros em busca de uma experiência única e diferente nos céus do Alentejo. É o caso de Francisco Miranda que, juntamente com um amigo, se fez à estrada rumo a Monforte. “Apenas viemos para assistir ao evento, mas vamos tentar andar de balão também”, disse entusiasmado com a ideia, depois de 220 quilómetros percorridos de mota com partida em Caparide (Estoril).
Directamente de Aveiro, com mais três amigos e também em busca de uma aventura inesquecível, veio Fernando Neto, de 58 anos. “Apesar de já termos conhecimento há uns dois ou três anos, é a primeira vez que participamos no evento” afirmou o “porta-voz” do grupo, minutos antes de viver provavelmente uma das melhores experiências da sua vida. “Queremos aproveitar a idade” folga José Espírito Santo apoiado a um cajado improvisado que utilizou durante o tempo em que esteve na fila de espera das inscrições.
* Reportagem de Ivo Moreira